2 de janeiro de 2015

Dominante

Aparentemente eu estava feliz
Tocando violão em uma noite fria com uns amigos, em volta de uma fogueira
Sorrisos estavam sendo refletidos no escuro da mata
Tocando nossas cabeças em volta de minha doideira
As risadas e nossas conversas
Estava soando como melodia no silêncio da madrugada
Mas tudo que é bom, dura-se pouco
E o coração disparou
Era a ansiedade extrema que me vigiava
Eu percebi
Meus desejos obscuros agora finalmente voltou
Ela, a ansiedade, ficava à paisana atrás das grandes árvores
Árvores que dançavam com a ventania
Enquanto o medo me perseguia como um caçador que mata
Mas eu sabia, eu sentia.
A ilusão que ali que aos poucos crescia
Os céus formaram nuvens escurecendo a lua que brilhava
Eu pude perceber então
Que eu estava novamente dentro de mim mesmo
Dentro da minha mente sombria
Dentro da minha canção
Então eu tocava minha sangrenta serenata
E novamente a necessidade do poder e controle
Me conduzia
Meus amigos já não eram mais meus amigos
Seus rostos estavam desconhecidos
Monstros imaginários invadindo meu plano físico
Se tornando presente no tempo que se passava em forma de delírio
Os seus rostos se tornaram deformados
O que antes estava cheio de vida
Estavam todos irreconhecíveis e mutilados
Eu já mais não sabia, eu já mais não sentia
A morte chegou e se tornou o principal convidado
A escuridão tornou-se protagonista
Em uma noite teatral do meu eu dominante
Dominante que o chamo de parasita
Um alter ego tomava meu lugar naquele instante
E enfim estava posta a frente a minha mente assassina
Cheia de delírios e confusão
Onde o inconsciente me distorcia
Em cada pensamento, e em cada ação
Era sonho e ao mesmo tempo real
Era verdade e ao mesmo tempo mentira
Era belo e ao mesmo tempo sangrento e visceral
Era realidade e ao mesmo tempo fantasia
"E então eu fugi para os braços do meu amor e ela me dizia: -
Aonde você estava? você entrou naquela mata, e desapareceu por anos -
E então eu percebi a conspiração do tempo
Que pra ela foram anos, pra mim tinham sido apenas horas, minutos
Ela me dizia:  -Eu me casei e tive uma filha-
E meu coração se partia
E ela gentilmente me levou para conhece-los
Ela no caminho, constantemente me dizia
"Meu marido é um homem de mau coração, eu não o amo"
Entrando na casa, ela me apontou o homem
Que estava em um cadeira velha, de costas para a porta que então eu entrava
Fui até ele, e o toquei, ele me olhou e disse:
-Eu estava esperando você por tanto tempo-
E pegou firme em minhas mãos
Olhei pra ele, e percebi que o tempo pode realmente distorcer as coisas
Destruindo os momentos de compaixão
Me vi sentado naquela cadeira
Era eu mesmo encarando a mim mesmo
Era o meu eu dominante
Eu estava mais velho
Cheio de rugas e com os cabelos grisalhos
Mas ainda com aquele mesmo olhar
Cheio de segredos supostamente sádicos
Meu alter ego então tomou conta
E então eu percebi que eu nunca estive ali
Eu não existia
Eu tinha matado todos meus amigos
Eu tinha destruído tudo que eu amava
Por uma força destrutiva
Além de qualquer coisa que eu podia controlar
Então eu descobri, que eu podia controlar tudo
Menos eu mesmo
Me olhei no espelho
E enfim, eu desapareci
Minha imagem jovem se esvaneceu no tempo
Como fumaça que desaparece no ar
Como uma leve brisa
E quando ela voltou
Ela voltou com a filha em seus braços
A nossa filha
E olhou para mim de maneira sádica e fria
E disse - Amor pegue sua filha-
E quando a peguei
Ela estava como meus amigos naquela noite
Estava deformada, uma imagem monstruosa
Maquiada com respingos de sangue
Uma aparência completamente distorcida
Mas mesmo assim, eu as abracei forte
Já velho, mesmo fora de mim
Reencontrei a minha consciência
E pude finalmente sentir o amor
Tinha sabor amargo, de doce e doença
Mentalmente com vestígios de feridas
Repletas de dor
Mas eu estava feliz
Eu estava com as duas pessoas mais queridas
Sendo real
Ou apenas sendo fantasias
Elas estavam ali
Elas sorriam
E os risos delas me refletia
Num espelho imaginário
Cheio de esperança e vida.