20 de setembro de 2016

Caoticamente

Há uma veia entupida entre o meu cérebro e a minha mente
E essa veia prestes a explodir é você
Eu tento evitar me lembrar
Mas você tá praticamente cravada em meu inconsciente
Em sonhos você aparece me lembrando da realidade
De uma verdade dentro de uma fantasia complexamente.
Eu não quero ver você
Mas você aparece vestida com roupas de látex
Exaltando meus maiores fetiches
Dançando em frente de televisões
Que transmitem sexo, guerra e bizarrices
Fazendo-me se perder em você e nas suas transmissões
O amor cria e faz ruir as estruturas do espaço-tempo
Vive entre o caos e fusões
Se contorcendo em destinos repletos de atrofiações.
Eu não queria ver você
Mas você vagueia nos meus pulmões
Fazendo-me respirar ofegante
Há ainda uma conexão entre os nossos corações
Fazendo-me entrar em um frenesi delirante.
Agora estou sonhando com nós dois juntos novamente
É! Parece que eu encontrei uma fenda de verdade
Entre tantas fantasias que vivencio
No meu mundo de mentiras
Eu encontrei a chave que abre todas as minhas feridas
As ferramentas precisas pra curá-las sem anestesias
E eu estou preparado para a dor
Pois essa chave ainda é você
A faca enfiada no meu ego
Mas ainda há amor
Eu só preciso esperar
Eu só preciso realinhar as linhas
Você é uma fenda no tempo
Que me faz perder a noção do mesmo
Confundindo minhas parafilias.
Apenas continue dançando nos canais do meu subconsciente
Que eu nunca eu irei me esquecer de você eventualmente
Pois não consigo mais me desligar de você
Mesmo depois de anos longe de seu beijo vermelho ardente
Entre tantos mundos paralelos
Os nossos mundos ainda vão se colidir
Caoticamente.
Bruno Bernardes.

18 de setembro de 2016

Apotemnofilia


Há uma falha na conectividade cerebral, existe uma parte do cérebro que representa o mapa do seu corpo. E quando esta parte nasce danificada, o individuo sente-se que esse mesmo mapa corporal está com partes demais, levando-o a uma obsessão extrema, criando fetiches insanos de sentir-se a necessidade que alguma parte do seu corpo deve ser amputada.
Agora me permitem contar a história triste da minha amiga Mel. Mel desde criança era uma pessoa intensa. Fazia todas as coisas com uma imensa paixão. Mas ao mesmo tempo, ele sentia que essa paixão não fazia parte dela. Era uma intensidade que a fazia se perder em emoções desconexas e sem nexo, e sim Mel sofria, chorava.
Com o tempo, na idade mais adulta, Mel começou a ter as perversões mais perversas possíveis, como demanda essa falha cerebral. Começou a ter fetiches por pessoas amputadas, com partes do corpo faltando. Ao mesmo tempo que ela sentia desejo por essa fantasia, ao mesmo tempo ela se sentia mal, porque algo no corpo dela não deveria estar dentro dela, algo que causava exatamente esses fetiches estranhos.
Mel pediu minha ajuda, me levou ao seu quarto secreto, um porão onde ninguém entra em sua casa. E me mostrou seus pecados. Havia um mural de fotografias, com pessoas mutiladas, mas pessoas sentindo tesão e apreciando a automutilação. Ela me disse a seguinte confissão que me deixou com brilhos nos olhos naquele dia: Eu confio em você como deus confia em seus anjos.
Ela tentou mostrar para mim, como aquela enfermidade que acompanhava ela desde criança, a fazia mal, a fazia se sentir culpada. Mas ao mesmo tempo, percebi que seus lábios se mordiam de excitação, ela tentava disfarçar, mas a sua língua lambia seus lábios, molhados e tenros. Era a fusão do sentimento de culpa com a necessidade do prazer, e ela me beijou.
E o beijo era intenso, como ela havia me dito, era algo que deixava você eufórico, era como uma droga estimulante, logo eu me senti dominado por aquele beijo. Um beijo que transmitia a sua perversão de pessoa para pessoa, e percebi então, que eu fui chamado ali, porque eu era o único capaz de se entregar a sua intensidade sem medo algum. Eu me senti como um receptáculo, onde ela estava dividindo o vírus e a doença dela comigo. E eu me enchi da sua intensidade, me entreguei, me apaixonei.
Ao passar dos meses, nós estávamos ligados a um tipo de frenesi coletiva, a dois. A euforia dominava nossas mentes, levando nossos corpos realizar as fantasias mais bizarras possíveis. Porém a culpa que ela carregava, eu também comecei a carregar. Eu não aguentava mais receber casais que queriam ser mutilados por nós. Aquela dor, aqueles gritos, aquele tesão, aquele sangue e vísceras, aquele gozo coletivo.
Mel me levou ao seu mundo, eu me senti traído por sua ousadia, por sua necessidade. Muitas pessoas tem essa enfermidade cerebral, apesar de ser rara. Alguns querem que apenas um dedo seja arrancado, outros querem a perna, normalmente os fetichistas por pés são os mais comuns, perdemos a conta de quantos pés nós amputamos. E eu queria sair desse mundo doentio. Por mais prazer que eu e Mel sentia.
Então eu descobri o órgão dela que deveria ser arrancado. E o arranquei, sem dó, e nem piedade. Era o seu coração. Aquela intensidade, aquela necessidade de amar e ser amada de volta, era doentia, e eu fui o a sua vítima involuntária. Quando arranquei, me senti curado, ela ao mesmo tempo sentiu um desespero imenso, ao se deparar com a minha traição, ela confiava em mim como deus confiava em seus anjos, mas esqueceu de que haviam muitos anjos caídos, e ali então, eu havia me tornado um para ela. Mas ao mesmo tempo o olhar dela transmitia prazer, um gozo, um orgasmo, seus lábios se mordiam novamente, sua língua passava-se sobre os lábios molhados, mas desta vez, eu a beijei, e juntos caímos em sono profundo, um sono tão profundo que Morfeu estava tendo pesadelos enquanto dormíamos.
Na manhã seguinte, estávamos no mesmo porão, acordamos juntos, o lugar estava limpo, não havia mais aquelas fotografias, e nem um vestígio de sangue, havia um grande por do sol lá fora, brilhando nossas janelas. Toda aquela intensidade visceral havia passado. Juntos tomamos café da manhã, cujo no cardápio estavam nossos corações. Cujo corações que entregamos um ao outro. O amor e a paixão psicologicamente estavam saudáveis. Íamos ficar juntos, e ali ficamos e nunca mais saímos. Do inferno nos libertamos, no paraíso nos encontramos.
A ironia da história, é que essa Parafilia que tínhamos, o principal sintoma dela, era ter um órgão arrancado, porém com o mesmo, nos sentíamos escravos de uma perversão infernal, mas era algo que nos deixávamos incompletos, arrancamos, e agora que arrancamos, a ausência nos tornou completos.
Hoje eu a amo e ela me ama na mesma medida simultaneamente. Hoje nos amamos, e nos completamos, hoje confiamos um ao outro como o Diabo confia em seus anjos caídos.
- Bruno Bernardes.

13 de setembro de 2016

AMOR À SANGUE FRIO


Sentimentos que se tornam blasfêmias para o coração
Palavras que soam conspiração
Declarações que beiram a obsessão
Você vai se entregando sem ao menos perceber
Que está se permitindo cair em uma vazia imensidão
Você não respira
Você se sufoca
Você se torna um prisioneiro
A pessoa que lhe diz eu te amo
Ama o que ela sente
E não você exatamente
Ela tem uma necessidade compulsória
De ter alguém sobre o seu domínio doente
O poder e o controle transam em um frenesi divino
A sensação de se sentir deus
É como um orgasmo aos confins do prazer doentio
Nos dias de hoje até para amar precisa-se ter sangue frio
A intensidade está à paisana seguindo seus passos
Te seguindo a cada minuto e segundo
Não é mania de perseguição
Você não está confuso
Você não está imaginando coisas
Você está se perdendo dentro do seu próprio beco escuro
Na rua das emoções
O criminoso é você mesmo
Você rouba tudo àquilo que está oculto
Sem perceber que você está se tornando um intruso
Sufocando a vida de suas pessoas amadas
Você não percebe, mas sem mais nem menos
Você vai deixando as mentes alheias desmembradas
A manipulação se torna amiga e traz paranoias aliadas
O poder e o controle transam em um frenesi divino
A sensação de se sentir deus
É como um orgasmo aos confins do prazer doentio
Nos dias de hoje até para amar precisa-se ter sangue frio.
- Bruno Bernardes.