28 de abril de 2017

A escuridão que trago comigo

Eu sempre fui uma pessoa sentimentalmente reservada, pelos menos nos últimos anos. Aliás, foi um dos motivos por ter criado esta página, para manter meus sentimentos todos criptografados em palavras complexas. Mas há sempre alguém de olho, e normalmente os olhos são bem expressivos e grandes que se destacam com os lábios que ludibriam como uma bela serpente.

Eu só consigo brilhar e irradiar a luz do meu ser, quando estou na escuridão.

Quando eu venho para a luz, e tento mostrar o meu brilho para todos, a ansiedade aparece, vícios tomam conta e os delírios são servidos a mesa, eventualmente eu machuco e assusto os demais. E vejo todo mundo se afastarem de mim, como eu sempre vi desde que me conheço por gente. Todos partem embora.

A admiração que ganho com tanto esforço dos demais, desaparece em segundos, devido a pequenos erros que são pintadas em contrastes precisamente desenhados pelo mais belo artista narcisista, eu!
  
Não pensem que este texto é um eufemismo para vitimização, vejam bem, não há nenhuma vitima aqui, eu sou o culpado e também o executor de mim mesmo, quando vejo o que pintam de mim mesmo, me sinto como Dorian Gray num romance de Oscar Wilde, tão belo por fora, mas monstruoso por dentro, apodrecendo aos poucos.

Pois desde a infância, eu sempre fui jogado numa zona obscura, onde todos me culpavam por algo que eu nunca era ou por algo que eu nunca tinha feito, e às vezes julgavam tanto por eu ser uma determinada coisa, que finalmente acabei me tornando o que tanto diziam.

Tornei-me cada pedaço de cada palavra mal dita, foram me moldando segundo pensamentos distorcidos moldados por fanatismo e preconceito, e complexamente quanto mais me moldavam, mais eles destruíam o que eu era de verdade. O meu verdadeiro retrato se perdeu no tempo, envelheceu e amargurou-se, mesmo eu sendo jovem.

Pintaram-me tão mal, que hoje eu sou um retrato escondido, onde eu o oculto de todo mundo e às vezes de mim mesmo, para ninguém ver. Pois apesar dos apesares, eu não quero machucar ninguém, como me machucaram com palavras tão mal pintadas.

Eu quero me manter aqui, nas sombras, nos bastidores construídos pelas minhas imaginações abstratas, estou seguro aqui neste espiral infinito onde me jogo e me contorço em cores complexas para ninguém perceber o verdadeiro contraste que tenho.

Pois a cor que possuo hoje é obscura
Eu posso confundir a sua percepção com tanta vaidade e sedução
Eu misturo as palavras criando fins que justificam meios 
Criando minhas poesias que podem iludir o seu coração
Fiquem longe, não se aproximem
Eu não quero ser o motivo de sua decadência e destruição.

E assim eu sigo, carregando a escuridão que trago comigo. E para não deixar os universos em desequilíbrio, eu não a misturo com a luz, por mais que meu coração escuro ame os anjos de luz, sei que esta não é a minha vocação. Pois eu sei que não vim a este plano para caminhar pela claridade, eu vim para observar, para estudar e perceber que os heróis são tão perturbados como os vilões.

A única coisa boa em toda essa história, é que daqui de dentro do meu submundo, por mais que eu esteja aparentemente em um nível inferior daqueles que caminham sob a luz do sol, daqui do escuro eu enxergo com melhor visão, pois o excesso de luz cegam as pessoas com suas palavras mal ditas, embaçando a sua percepção, e eventualmente mesmo estando abaixo, eu estou acima, na vanguarda, sempre um passo a frente.

E assim eu sigo, carregando a escuridão que trago comigo.