26 de janeiro de 2012

Alucinógeno

Sei que você nunca esteve aqui, mas sinto teu corpo sobre o meu, como uma tempestade que cai sobre mim. Uma chuva que cai, mas que não molha a minha pele.
Ouço seus sussurros levemente em meus ouvidos, palavras que entram em minha mente, e dentro de mim eu posso te saborear, te conhecer, te tocar. Mas você não está aqui.
Um caos entre corpos, uma paz doentia, um eufórico momento que na realidade não existe. O mundo real está longe, está do outro lado da porta, aqui dentro é somente eu, comigo mesmo.
Os relógios pendulam mas o tempo não passa. Tudo está um pouco meio mórbido, sinto pequenos calafrios, meu coração parece meio acelerado.
Eu estou amando alguma coisa naquele minuto do tempo, mas eu não consigo enxergar o que é. Tudo fica mais nítido na visão dos meus olhos, consigo ver cada microrganismo unicelular de longe,tudo se torna um mundo onde eu controlo tudo.
Eu fui deus por um leve segundo perdido da hora que ficou atrasada,
do minuto que parou, do segundo que voltou, do momento que se repetiu
tudo vai se tornando algo infinitamente imaginável.
O medo de não voltar começa a tentar invadir sua casa e te possuir você tenta fugir pra outros pensamentos, mas ao fim ele entra, e queima tudo que há em volta, principalmente as melhores fantasias em cima dos móveis da desilusão.
Agora é somente eu e minha bad trip, tudo parece não ter mais fim.
A tristeza chegou e trouxe presentes com ela, pacotes enfeitados e vazios.
O efeito passa, poucos vestígios do real, mas real.
Agora o tempo passa normalmente, a tempestade cai forte, e meu coração novamente está frio e úmido.
Voltei, agora encaro a realidade de ter descoberto que a ilusão é real.

12 de janeiro de 2012

Nostalgias

 - Você quer saber por que eu me sinto tão vazio por dentro? –

Andando sobre as ruas da cidade, percebo como é engraçado os lugares que já passei, parece que em cada lugar deixei um vestígio meu, para quando eu voltasse lá eu pudesse relembrar os velhos tempos, relembrar os momentos, doces e amargos, e por fim perceber como o tempo pode mudar as coisas. É apenas uma linha que nos separa do passado, o presente as vezes pode nos chocar com uma dura realidade; e o futuro pode se tornar um doce passado que gostaríamos de reviver.

Estranha sensação. Saímos e reencontramos pessoas que não as vimos há muito tempo e conversamos sobre coisas que já aconteceram e no mesmo momento revivemos com os nossos risos e conversas. Sinto-me em tempos de nostalgia, saudade daqueles anos, dos tempos de escuridão, dos amigos que se foram, da louca paixão. A vida calma me acalma mas não me agrada.

Então eu perco a minha mente e faço isso lentamente, lembro aos poucos. Se ao menos fossemos nada, mas somos pequenas partículas em nossos lobos temporais, a memória queima viva dentro de nós, mandando sensações ao sistema límbico nos fazendo transpirar emoções, é como se cada saudade pudesse elevar as sinapses da mente, nos deixando com esse sentimento eufórico que poderíamos voltar no tempo, e reviver cada momento bom, que hoje guardamos apenas na lembrança.

O importante é saber que não vamos esquecer, nem mesmo os dias ruins.

9 de janeiro de 2012

passione mea

Estranha paixão parece deixar os mares agitados, podemos cair do barco e afundarmos, toda aventura há um grande risco, mas eu não vou deixar de segurar suas mãos, eu levarei as feridas estando do seu lado, imaginações podem nos enlouquecer, mas não existe uma história de amor que não tenha uma dose de loucura, no meu mundo não existe e nunca existiu, desconheço paixões que sejam perfeitas, e a minha única paixão é você.

Eu estava no fundo do poço do mundo, um certo dia você estendeu a sua mão e me ajudou a levantar, mas nada seria perfeito, e não era pra ser, se fosse perfeito não estaríamos vivos, estaríamos mortos no paraíso. Sei que não é nada perfeito, você me tirou de lá uma vez, mas também há vezes que você me joga de volta para lá, as vezes prefiro estar lá, as vezes é melhor assim.

Nos amamos, eu amo você, mas nada disso será um conto de fadas, nós enfrentamos a realidade todos os dias, a realidade que as vezes nós vamos nos magoar, a realidade que se quisermos permanecer nesse mar agitado e maravilhoso, teremos que ter uma força ainda maior que um oceano em ira por causa de uma tempestade, as vezes temos que esperar a chuva passar, para podermos se abraçar firmemente. E você? Sonha como eu sonho?

Vamos velejar até encontrar o outro lado.

6 de janeiro de 2012

Perfume

"Perfume"
Aquele perfume que se impregnou em cada centímetro do quarto cheio de lembranças suas. O passado estava visitando o presente, os ponteiros do relógio voltaram e fizeram seu percurso de novo e de novo e de novo, apenas para sentir o gosto e o sabor daquele tempo que passou e que por motivos sem sentido deixou leves vestígios de amor e sangue. Um cômodo tão infestado de memórias que se tornou assombrado pelos fantasmas da nostalgia. Não havia como dormir em paz naqueles lençóis, naquela cama, sentindo o odor daquele perfume cheio de doçuras e amarguras. Adormecer lá era como sentir a euforia de estar anestesiado da realidade, eu viajava para uma outra dimensão, uma dimensão cheia de efeitos contrários do mundo que vivo.
Eu permanecia em coma!
E o tempo voava com a tempestade lá fora, me deixando preso junto com ele naquela parte da casa infestada pelo cheiro do teu perfume. Eu estava parado junto com os ponteiros dos relógios, e sempre estávamos voltando o percurso, voltando para atrás ao invés de seguir os passos a frente. Eu voltava junto com o tempo e as horas me mostravam a dura verdade que teríamos de enfrentar. Eu teria que deixar todo aquele tempo de fantasias para trás, deixa-las nos ponteiros do passado, junto com as horas, dias, meses e anos de sonhos.
Eu permanecia no tempo.
Assim como os ponteiros dos relógios voltaram o seu percurso normal, meus pensamentos também voltaram para um momento de sanidade. Em noites que vozes sussurravam em meus ouvidos dizendo – sonhe comigo – ou em dias que vozes gritavam – eu vou embora deste lugar – vozes, frases e sensações. O tempo me amou naquele minuto e noutro não amou mais. E conseqüentemente o tempo passou e levou tudo com ele, os momentos, os risos e os choros, apenas deixando seu perfume para trás.
E assim então a vida continuou.
Eu permaneci vivo!

A própria vida é apenas uma visão, uma lembrança, nada existe; só um espaço vazio e você.”

1 de janeiro de 2012

Soneto Psicose


Fonte do Texto http://textos.yurivieira.com/poemas/soneto-psicose/


Tranqüilo estava a tomar um bom banho
Quando por trás da cortina do boxe
Surgiu um vulto brandindo faca inox
Que me deu um susto sem ter mais tamanho.

Rasgando a cortina às estocadas
Assomou-se a minhas pobres retinas
Uma mulher com os ares das meninas
Que anelamos sob luas danadas.

Nua, abandonou a faca e fitou-me:
“Cá estarei até abrir-te o coração…”
E achegando-se, sorriu e beijou-me.

Mas após amá-la com toda arte
Ela se foi, ao não ouvir, em confissão,
Meu amor qu’estava em toda parte.