29 de novembro de 2012

Quimérico

Eu estou aqui, do seu lado. Sente minhas mãos nas suas? Eu estou aqui, mas é como se eu não estivesse, como um holograma. Você consegue me ver ? Olhe em meus olhos e me faça real. Fique e não vá embora. Eu estava feliz, mas não havia sorrisos. Eu te abraçava, mas não sentia o calor do seu corpo. Talvez foi o vinho que nos trouxe essa euforia. Dançávamos, mas não havia música. Juntos, rosto a rosto. Seja minha e não vá embora.

Subimos as escadas, mas não havia como voltar. Era um quarto cheio de espelhos,  mas não havia reflexos. A cama tinha visão para as estrelas, mas não havia brilho algum. Eu te tocava, mas não a sentia, era como um fantasma. Havia beijos, mas sem sabor, havia sexo, mas sem fogo, havia abraços, mas sem calor. Você me dizia algo, mas não havia vozes. Cada som, parecia estar tão distante. Havia apenas o eco do vazio. Juntos, dormimos. Adormecemos; mas não havia sonhos. Amanheceu, mas não havia sol.

Me virei nos lençóis, mas não havia você. 

Você não estava mais ali, não estava mais do meu lado. Eu te procurei pelos cantos do quarto. Mas nem seu perfume impregnava ali mais. Era como se você nunca tivesse estado aqui, e mais uma vez, eu estava sozinho. Eu estava triste, mas não havia lágrimas. E quando eu menos esperava, eu me dei conta, e caí em si. Nem eu mesmo estava ali, não havia nada, nunca houve. Nunca estivemos lá. Nós não existimos mais, nem ao menos sei, se realmente já fomos reais. Talvez foi aquele absinto que nos trouxe essa ilusão. Nada disso foi verdade, acabou.

20 de novembro de 2012

Café

Pode ir dormir com os anjos, e reserve bons sonhos para acumular sorrisos pela manhã.

Eu te serviria o café da manhã, te daria um abraço e um beijo de bom dia. E arrastaria uma cadeira, para sentar ao seu lado. Observaria você comendo as torradas que você tanto adora comer, crocantes, com um pouco gosto amargo de geleia de pimenta. Olharia para o relógio, para certificar que você não estaria atrasada para o trabalho. Mas dali mesmo daquela mesma cadeira, do seu lado. Eu seguraria suas mãos, por um rápido segundo, para sentir um pouco do calor que seu corpo me passaria num minuto para o outro. Mas você não percebe que estou ali, observando os pequenos detalhes. É tudo uma pequena distração. Olho seus pés passarem entre as pernas da mesa, e percebo, pela sua delicadeza, que sou eu que durmo com os anjos. Me levanto da cadeira para escovar os dentes e ir ao trabalho, te dou um beijo e digo que a amo. Já se passaram dez minutos desde então. E a ansiedade toma conta.

Olho no espelho, por um instante, me admiro. Enquanto escovo os dentes, olhos diretamente para meus olhos, para mim mesmo, e me pergunto, 'o que é o amor próprio'? E um leve sussurro em meus ouvidos me fala sobre a minha obsessão. Nesta hora, no meio de um devaneio, eu me dou conta, do que eu tinha feito. Do que eu tinha planejado meticulosamente por tantos dias. Paro e respiro fundo. Começo a fazer a barba, e me corto num leve deslize. Enquanto cai de gotas de sangue sobre a pia, vejo que já passou o tempo suficiente, para eu voltar para o a mesa e terminar o café da manhã. Eu precisava me despedir dela, como sempre fazia todas as manhãs, antes de ir trabalhar. Com um beijo bem molhado.

Eu não senti nada, não ouvi nada, mas enquanto eu tentava ficar elegante no espelho. Nos exatos quinze minutos que passaram. O veneno que coloquei no café quente enquanto eu preparava para ela, finalmente tinha começado a fazer efeito. Ele circulou pelo seu sangue, pelo seu corpo, e cada minuto que passou, simplesmente tirou a sua vida. E eu nem pude ouvir seu último suspiro. Mas agora está tudo bem.

O pior já passou e eu já preparei o lugar onde eu vou manter você junto comigo. Juntos. Era o que queríamos desde o começo, que sempre sonhávamos. Juntos para sempre. Lembra?

Minha psicose tornou o nosso amor imortal nos lençóis sobre nossos corpos irreais, no tempo que nos encontramos quando nos olhamos. Sua pele pálida, dou um beijo em seus lábios, sua saliva logo conclui a morte. Você se deitou comigo na mente, e agora não vai sair. Você abraçou o meu coração e agora não vai soltar. Nunca mais. Eu te amo intensamente.

Agora você nunca mais poderá ir embora.

6 de novembro de 2012

Livre

Estado de desespero, desesperadamente procurando novas emoções. Mas nada se sente, nem mesmo o toque dos seus lábios sobre os meus, nem quando você me beija e me abraça. Distante da realidade, as horas engolem os minutos, e os segundos devoram a minha mente. Perdido em pensamentos, todas as noites, penso como posso perder todo esse tempo pensando em você. Como eu pude pensar tanto e não sentir mais nada? Talvez seja apenas saudade.

Saudade das cores do dia. Os dias são como uma estrada durante a noite, onde as luzes dos faróis dos carros se misturam formando cores fortes e intensas, causando um momento surreal. Cores que passam através de mim, como se eu fosse um fantasma. É como se eu nem mesmo estivesse aqui. O vento é a única sensação que me conforta, é como um abraço suave e afetuoso num dia de verão colorido. E todas as madrugadas, quando chego em casa, a realidade está lá me esperando, e todas as cores se tornam cinzas, num tom bem escuro, que me completa.

As paredes se fecham dentro dos meus sonhos. E meus pensamentos ficam esmagados, e de repente, eu posso sentir a brisa do sol lá fora, e abrindo os olhos eu vejo; um novo lugar. Lá fora há um novo lugar, que nem sei ao certo onde está, mas está lá. Sinto, agora eu sinto. E percebo que os mundos, o meu e o seu, não se colidem mais. Estamos em universos diferentes, nem eu e nem você podemos conseguir saber onde nós estamos. Você se foi e ambos não pudemos mais nos sufocar. Aqui eu posso sentir o vento, e respirar o ar.

Aqui eu me sinto completamente livre.

"By coming home"