30 de abril de 2022

A Casa.




Tá tudo um caos. Há vazamentos pela casa. Há vidros quebrados devido a fúria da mente embriagada. Há dívidas a serem pagas. Na balança do destino, estamos no prato com a nossa alma pesada.

Existe uma bifurcação que separa a loucura material dos clamores espirituais. E nada se coincide, pois há estafes mentais que empoieram e sujam os móveis e a nossa alma. É só um vazio, um corredor escuro, um quarto eufórico, é a sensação do nada.

Minha casa virou uma encruzilhada cheia de despachos com demandas de guerra e destruição. As bençãos subiram aos céus, nos abandonando em uma injusta oração.

Porém, no romper das madrugadas, minha alma serpenteia em ritmo dançante com criaturas desconhecidas e ao dormir, caio no submundo labiríntico da minha mente que nunca cessa seus movimentos. Mesmo em sono profundo, eu nunca durmo. 

E mesmo diante o caos, deito-me em paz ao lado do amor que umedece meu seco e denso coração. Ainda há uma Deusa ao meu lado, nos meus braços, no meu Panteão.

Mas, algo está errado. Há buracos em nossas almas causados por nós mesmos, moldados por atitudes medíocres, mas ao mesmo tempo criou-se o reflexo com as demandas externas, que agora são visíveis ao perceber que há ratos atrás das paredes roendo a nossa loucura para que ela afie cada vez mais nossos pensamentos cheio de moscas e larvas.

Todo dia parece ser uma ressaca, mente com peças pregadas, e um Espírito infestado de bactérias, que inflamam e infeccionam os sete pontos de energia de nossos corpos, bloqueando-os com desalinhamentos contínuos. Eu sou a armadilha que criou a minha própria cilada.

Sim. O inimigo é interno, sou eu mesmo, mas não posso deixar de subestimar os monstros que rondam lá fora, nos cercando com suas artimanhas. Sumindo com nossas chaves, trancando nossas portas, nos acurralando em conflitos e ilusórios debates.

E assim está o meu lar. Ele se tornou uma garrafa de álcool quebrada, estilhaçada no tempo que se impulsionou no garlago da insanidade, ela se tornou um bloqueio no meio do destino, cheio de olhares lá fora cheio de fascínio, malícia e maldade, fechando nosso caminho. 

Meu lar se tornou o fantasma solitário que não desgruda de nós, implorando por uma companhia. Que saudades das borboletas, do canto dos pássaros pela manhã, minha casa se tornou um memorial post mortem, eu, minha amada, os móveis estamos todos de luto. 

As músicas que escutamos são como discos arranhados, alegria desconexa, inexistente, sorrisos emaranhados e serrados como arames farpados.

As riquezas que o carteiro da esfera de Mercurio nos trazia todas as manhãs, não foram mais entregues a nós, destinatários. Pois os remetentes que residem em mundos superiores, nos tiraram de seus grandes planos. Arrancaram minha fé, meu santo cansou, minhas prece dispersou.

E mesmo dançando agora com as palavras. Escrevo-as triste.

Não me sinto mais em casa, e não tenho mais para aonde voltar. Nunca mais.

Hoje o inimigo vence. Eu caio. 
Caio em queda livre no Eclipse de Maio
Mas, quando eu levantar.
Todos que conspiraram contra nós, serão dilacerados.

E com o sangue, com a pele, e com os ossos de vocês, vou reconstruir e consertar a minha casa.


Bruno Bernardes