7 de abril de 2011

Em Coma

Eu ando queimando todas as cartas de amor que me mandaram. Não há razão, nem sentido em guardar recordações que somente servem de enfeite no seu quarto, o perfume em cada papel, em cada folha, cada cheiro diferente uma da outra carta, perfume de corpos que eu dormia nas noites malucas e insanas de amor que eu fiz.
Quando estamos com a pessoa que amamos, nos distraímos e ao mesmo tempo você está feliz, e você nem vê o tempo passar, as horas passam, elas voam, quando se é feliz, o tempo faz você ficar distraído, porque você nem percebe o tempo passar, de tão bom que é aquele momento. E eu sinto falta de todos os momentos de amor, que eu tive, dos momentos apaixonantes de apenas uma noite, ou de uma manhã de domingo. A saudade é um sofrimento admirável, e eu sinto falta de todas as pessoas que eu amei. Então estou me livrando das fotografias, dos presentes, dando para outras pessoas que precisam mais do que eu neste momento. Pois eu não quero reviver momentos bons através de meras cartas.
Nada me encanta mais, eu não gosto de ter algo guardado no meu quarto de uma pessoa que não está mais aqui,  porque é como se a pessoa, um pedaço dela, um vestígio dela ainda estivesse ali na sua cama, nas suas veias, na sua mente. Mas na verdade ela não está. É uma doce ilusão. Eu não quero olhar, eu não quero sentir saudade.

Eu quero caminhar, vagar, me perder, mas não quero levar ninguém comigo. Eu estou em estado de coma, você me vê, e fala comigo, sente as minhas mãos. Mas eu não te olho, não consigo falar, me expressar, pois eu não consigo sentir nada. Nada além de mim mesmo.