23 de março de 2015

Burguesia

Eu não poderia prever o que estava pra acontecer, mas aconteceu, na verdade foi a surpresa que me deixou um pouco incomodado. Não gosto que me peguem desprevenido. Era uma noite estrelada a lua brilhava como sol, era verão, e todos nadavam na piscina da mansão. Havia pessoas com belos corpos, belos sorrisos e profundos olhares.
A anfitriã da festa, desfilava pra lá e pra cá, observando e admirando a burguesia quase que doentia que impregnava em todos os cômodos da mansão. As escadas e os detalhes eram minunciosamente dourados, brilhava qualquer escuridão de nossas almas. Tudo desenhado pela anfitriã que ao mesmo tempo bela, tinha a cor da natureza selvagem em seus olhos, esverdeados como folhas dançando em um furacão. Tinha os cabelos dourados, louros compridos, que indicava uma conduta de poder e controle, o fogo a queimava por dentro. Ela radiava a paixão.
E eu era o seu principal convidado. Eu era o amor da vida dela. Ela me seduzia com seus beijos esfolados de tesão, e com seus toques intensos de sedução.
O jantar estava a mesa. Todos os convidados, os mais respeitados da cidade, estava sentados diante de nós. Eu em uma ponta da mesa e ela em outra. Dominávamos a situação. E enfim chegou o mordomo, que colocou as comidas e as bebidas sobre a mesa. E bem ao meio, a refeição que supostamente era a mais aguardada, estava em uma porcelana prateada coberta por uma tampa de ouro. Todos olhavam curiosos. E então fui requisitado para retirar a tampa. E enfim, a surpresa. Era uma cabeça de uma bela jovem. Tão bela que mesmo morta radiava beleza extrema aos olhares dos convidados.
E finalmente, a lua se escondeu atrás da nuvens, as estrelas explodiram. E tudo que era luz ofuscante, se torno algo sombrio e obscuro. A beleza de todos, caiu como uma máscara que você o arranca de uma pessoa misteriosa.
Todos estavam sedentos de fome, seus olhos estavam vermelhos indicando ira, e seus unhas estavam enormes ilustrando uma breve fúria. E então a anfitriã, deu um sinal da cruz, como se fosse a permissão pra eles comerem a iguaria na mesa.
E foi assim que o amor da minha vida, me surpreendeu no meu aniversário de quatro mil anos de idade. Nunca ninguém fez algo tão belo por mim. Ela olhava pra mim do outro lado da mesa, mesmo distantes, nossos olhares nos aproximavam. E então ela pegou a taça de vinho, e brindou a mim enquanto eu também peguei a minha taça de vinho, e bebemos nos olhando fixamente, enquanto humanos monstruosos, famintos por luxúria e luxo, esfolava e comiam uns aos outros.

22 de março de 2015

A estrada

Na estrada, somente eu e as luzes
a cada lâmpada que eu passo
elas transparecem o meu vazio
eu deveria estar morto?
há alguém me seguindo?
Minha vida se colidiu com o além
meu mundo me levou ao desconhecido
minhas mãos não tremem mais
minha mente não está mais insana
minha alma flutua em algo calmo e tranquilo.
E então eu vou dirigindo
sem saber para onde eu estou indo
sentido em meu rosto a brisa da ventania
sem rumo e sem destino
apenas seguindo em frente
sem olhar pra trás
o passado agora queimou e há somente cinzas.
Talvez eu tenha encontrado a minha paz
mas eu ainda sinto uma escura sintonia
minha mente está em um processo sagaz
meu coração está batendo devagar
quase não o sinto em minha pele que está bem fria
eu não quero perder nenhum momento dessa viagem
estou aproveitando cada aura sombria
as sombras dançam sobre as luzes dos postes
e a solidão me faz companhia.
Eu estou só nesse caminho
não há encruzilhadas e nem esquinas
só há um reto contante destino
eu não sinto mais meu coração bater
não há mais calor e nem o frio
eu vejo uma luz finalmente
eu devo ter chegado ao paraíso.