7 de junho de 2011

Perto do coração selvagem



Eu sou um pulsar.  Sou um quasi stelaris objectus. Sou um cometa.  Sou um corpo celeste, incandescente em franca colisão com algum planeta desconhecido de uma galáxia distante. Uma tragédia iminente.
Eu sou uma grande bola de fogo, eu sou um torpedo, uma bola de canhão, uma ogiva nuclear em ponto de fissão sou matéria em combustão e preciso queimar, queimar, queimar, até a última molécula de minha existência.
Eu pensei que com o tempo esse fogo fosse diminuir, com o passar dos anos  minha luz fosse enfraquecer, minha velocidade fosse se fixar, minha sanha cessar.
Mas não. Eu ainda latejo à deriva no espaço, pronta para engolir um universo qualquer.
Eu preciso de fruição. Preciso respirar toda espécie de arte, preciso estimular todos os meus sentidos, de preferência, ao mesmo tempo. Preciso de sinestesia, melodia, anestesia, alegria.
Preciso tocar, provar, cheirar, engolir, ouvir, enxergar e transcender.
Preciso de plantas, de música, de certas substâncias que tenham o poder de alterar minha consciência: seu beijo, seu cheiro, preciso de bichos,  preciso de troca: de idéias, de carinhos, de palavras,de fluidos, de insultos, de elogios, de identidade.
Preciso alterar a ordem das coisas, preciso quebrar regras, preciso correr, preciso me consumir, preciso contemplar o caos e me deixar ser tragada por ele.
Preciso de corpos, preciso de suor, preciso beber, preciso me alimentar do mundo.
Preciso aprender, preciso absorver, preciso reter, preciso segurar, viver.
Para depois ceder.
Expelir, emanar, desprender, desmanchar.
E então, deixar de brilhar.