2 de setembro de 2015

A hora mais sombria

A noite quente devora os dias frios
a madrugada é o espaço entre esses dois tempos
ela não é fria e nem quente
ela é suavemente confortante
ela me protege dos monstros do rio
que alagam em meu corpo
de forma animalesca e cortante.
Meus lábios fazem um brinde ao sombrio
minha boca me leva ao um ato delirante
e finalmente tomo minhas vinte gotas de Rivotril.
O tempo é abatido com um tranquilizante
em minhas mãos o tempo caiu
agora eu o esmago até ele sangrar
como meu coração que se partiu
ao bater mil vezes por segundo
enquanto minha pele se estremecia
e a perseguição era uma mania
enquanto tudo era uma alucinação
as aberrações que eu via
me encarando a espreita em cada esquina
animais despedaçados que me seguiam
em cada avenida
me mordiam
me arrancam a mandíbula
me deixavam morrendo aos poucos
fraco e frágil num chão sujo e podre
exposto a carne viva.
Mas eu parei o tempo
para escrever essas palavras queridas
para lhes dizerem
o que a ansiedade cria
ela cria crises em dias felizes
e os transformam em dias de luto e tristes
é como estar morrendo subitamente num segundo
e logo após alguns minutos
sua alma flutua voltando a vida
você sufoca
logo depois
você respira.
Mas eu parei o tempo
enquanto eu engolia
sessenta miligramas
de Paroxetina.
E consegui controlar
a hora mais sombria.