18 de outubro de 2014

Esquizofrenia

Sua voz soa como ópera em meus ouvidos
Mas você não está aqui
Sua palavras em desconcerto
Suas palavras sem nexo
Minha mente está em grande margem de erro
Não ouço bem o que você quer dizer
Você parece estar aqui bem perto
É tão suave
É tão frio
Como o inverno
É tão confortante
Como andar
Sobre as brasas do inferno
Logo suas palavras entram ritmo confuso
Me fazendo de altar para o seu ego
Me fazendo ser o teu segredo obscuro
Sua voz cada vez mais concertante
Cada vez mais perto
É como se você fosse sair da minha cabeça
E se materializar em meus lençóis
Seu perfume, o cheiro da tua pele
Inundou os meus pensamentos como um mar em tempestade
Mas eu sabia que era pura frenesi
Eu sabia que aquilo não era algo da realidade
Mas eu sabia que você pedia algo
Algo a sangue frio e sórdido
Ou talvez era apenas seu fantasma
Tentando assombrar o meu eu psicótico
Você estava voltando aos poucos
Me deixando louco
Me deixando neurótico
Mas a sua voz me seduzia
Num irresistível transe erótico
E aos poucos você me conduzia
Levava meu corpo sem alma
Para onde você queria
Sua voz me comandava
Me levando em uma bela escuridão
Que somente eu a abraçava
Num lugar escuro distante de mim mesmo
Mas ao mesmo tempo lá dentro de mim
Entre as veia e artérias
No labirinto do meu coração
Logo eu entendi a sua conspiração
Quando eu cai em si
E vi em frente de mim
Um genocídio  onde só havia corpos mutilados
Sangue e destruição
Só assim pra eu perceber que sentimentos
Somente nos deixam internamente dilacerados
Enlouquecidos
Desvairados
Mas não havia mais volta
E foi assim que eu entrei em seu ritmo
No ritmo da sua voz que antes eu não entendia
Entrei no ritmo e dancei a sua canção
E em troca ganhei novamente sua companhia
Numa imensa imensidão
Abraçados entre nossas entranhas
Em nossas carnes vivas
Num purgatório da mais intensa emoção
Num estalo de segundos
Eu deixei de existir
Assim como matei todos aqueles em minha volta
Aqueles que sua voz me dizia
"que eles não podiam mais pertencer ao nosso mundo"
Logo eu me tornei a morte viva
O passado sempre volta
Mesmo eu mesmo ter te enterrado
Você voltou em forma de uma maravilha
Voltou e me fez perceber que eu sou teu único amado
A tua única fantasia
Voltou e se encontramos como se fosse o nosso primeiro encontro
Aquela lembrança que ainda guardo em tons vermelhos num pano
Naquela tarde quente e ímpia
Mas dessa vez nos encontramos dentro de nossas mentes
Num tom que soava como uma canção delirante
Tua boca gelada na minha
Meu corpo pálido sobre o seu
Compôs perfeitamente o lugar da nossa melodia
Era a nossa música, era o nosso momento
Dançávamos juntos nos neurônios da esquizofrenia.