9 de junho de 2016

Somente os amantes amam.

Há somente a melancolia no céu de sua boca, onde a sua língua se torna afiada quando ela se esfrega sobre a minha, fazendo sangrar a submissão de nossa paixão, através de nossas bocas entrelaçadas que dançam na nossa escuridão.  É escuro, mas é um escuro que só pertence a nós. Não há somente o prazer, há uma intensidade que vem do universo, que afeta diretamente nossos corações. E os nossos lábios dançam juntos, dança o tango da ilusão, onde nossos corpos são os instrumentos que fazem tocar a canção. Há muitas emoções e sentimentos infestando cada canto do quarto, o nosso perfume é um cheiro só, criado através dos hormônios de nossas peles arrepiadas, causando o abalo da sedução. Estamos nos revirando em nossa cama, observando cada detalhe que cada um de nós tem um pelo outro.

Há somente a coberta úmida e fria, que assim como a lua, nos entregamos ao amor sob ela. Porém não foi necessário dizer uma só palavra, as ações falaram por nós. Nossos corpos tão magros e pálidos. Há quanto tempo estamos aqui? Há quanto tempo não comemos ou não vemos a luz do dia? Não importa! Temos as nossas fantasias afetando a realidade que ronda em nossa volta. Nossos olhos se tornam olhares que contempla nossos próprios corpos, venerando cada curva e cada sensação que causamos um ao outro. Há fogo, que queima na imensidão. A cidade parece estar vazia, está tão silencioso lá fora. Somente o canto das corujas na janela, ou seria uma assombração? Não importa, o mistério nos excita de uma forma que nos deixa cheios de imaginação.

Por mais que há o toque, por mais que há a sua companhia junto com a minha. Há ainda uma sensação que esvazia o próprio vazio de nossas almas, que melancolia. Nada foi dito, nada foi expressado, os sentimentos foram executados através de nossa bestialidade visceral, em um ato de luxúria ‘blasfêmica’, orgasmos fizerem nossas cordas vocais gritarem como se estivéssemos sendo assassinados, mas a dor foi imensamente prazerosa.  E por mais que há uma sensação de estarmos em um outro mundo, os nossos corpos permanecem abraçados, transmitindo nuamente sentimentos de amor e dor, cruelmente.

Há ainda uma sensação de melancolia, nada foi dito, nada foi expressado, nossas emoções choraram e sorriram ao mesmo tempo, sem precisarmos ter dito uma sequer palavra, nos amamos em uma noite em que a lua estava em Capricórnio. Há quanto tempo estamos aqui? Não me lembro de ontem, nem de antes de ontem e você? Não amanhece e não anoitece.  Enfim, não importa. Vemos nós dois de cima do teto do quarto, nossos corpos deitados de frente um com o outro, sem nenhuma expressão. Estamos sensualmente mortos. Nos amamos até a morte, quando plutão fazia oposição com o sol, por isso estava tão escuro. Nos amamos bem no exato momento em que os nossos sois transitavam pela casa oito abalando Saturno. E os céus decidiram a nossa fatalidade, morremos por amor, juntos e felizes, quando Vênus estava em touro, na intensidade mais melancólica da lua que transitava em capricórnio. E aqui estamos perto das estrelas, observando as órbitas dos planetas, lentamente e suavemente, de mãos dadas na imensidão. Hoje os anjos choram, os demônios cantam, mas hoje à noite somente os amantes amam.