11 de outubro de 2015

Morto vivo.

Você chega ao um momento da sua vida em que a morte é mais amiga de você do que sua própria vida. Sua vida abandona você na esquina, enquanto você está bêbado, sozinho e sem nenhum amigo por perto, numa zona perigosa da cidade. E mesmo assim, você acorda no dia seguinte, e a vida te obriga a viver. Mas a morte está ali em forma de pequenas doses de sensações de poder. A euforia se apaixona por você, e você a beija e a abraça forte. As pupilas se dilatam no tempo. A mente se distorce em insanos pensamentos. A vida te abandona, quando você precisa de ar pra respirar. Você fica entubado em uma cama de hospital. Fazendo lavagem estomacal. A vida te abandona quando você precisa alimentar seus vícios. E o coração fica com cheiro podre de hospital. A vida tenta te convencer que a ambição são somente ilusões de grandeza. A vida te mostra que os sonhos são a destruição da realidade. E quando você está chegando lá em cima, no topo do seu próprio ego. Seu coração acelera, o pulmão fecha, e a vida te chuta lá de cima, e você cai direto em um esgoto cheio de sujeira. A vida faz você sentir falta do fundo do poço, pelo menos lá tinha água e doses de cachaça pra você entrar em coma. E permanecer ali. Mas a vida vem e rouba até o pouco de miséria que mal temos. A vida não nos deixam dormir, ela prega nossos olhos, com agulhas, costurando nossa percepção sem anestesia no quarto da insônia. E a insônia mantêm minha imaginação se dilatando na paranoia. A vida me olha com os olhos bem abertos em meus olhos, e não me diz nada, levanta e me dá as costas. A vida me abandona quando eu preciso dela para vivê-la. Ela sai do quarto, fecha e tranca a porta. E me deixa morto lá dentro de mim mesmo. A vida ainda não sei o que ela é, não sei qual o sentido dela. Só sei que acordo todo dia, e me deparo com ela no espelho. Ela encara minha alma e me oferece um cigarro toda manhã. Ela é simpática no café da manhã, quando leio as tragédias e os assassinatos em séries pelo jornal do dia. É só mais um dia normal da minha vida, eu sei. Mas a vida me olha como se eu fosse o principal suspeito. Mas também me olha como se eu fosse um erro perfeito. A vida talvez seja eu mesmo, cobrando demais de mim mesmo. Aliás a vida é minha, e eu faço que eu bem entender. Talvez seja somente eu, apaixonado por uma imagem distorcida e distante no espelho, Talvez as minhas qualidades sejam o meu maior defeito. A vida nos cegam com doses de egomania nos fazendo sonhar alto demais. E ela mesma nos derruba lá de cima, para nos fazer acordarmos pra vida. A vida me matou e me deixou vivo. Mas eu não sinto nada. Eu me alimento de mim mesmo, deixando expostos meus sentimentos em carne viva. Deixando toda a empatia em estado lento de putrificação. A vida me transformou em um animal sem instinto. Em um ser estranho esquisito. A vida é como um carrasco insensível a sangue frio.
A vida me transformou em um morto-vivo.