16 de outubro de 2016

A cidade.

Mesmo sofrendo de ansiedade crônica, encho a minha xícara de café na madrugada. Sei que daqui algumas horas, meu coração vai disparar, e eu vou me imaginar em um hospital sendo levado numa maca. É! o medo lhe prega peças, que são precisamente moldadas em forma de síndromes. Porém, nessa noite, que está garoando leve, dentro um calor que está oscilando com o vento gelado. Me sinto mais uma vez mentalmente perturbado.

São tantos pensamentos que deixam de ser pensamentos, e percebo que meus pensamentos estão se tornando a realidade em minha volta. Uma realidade, onde as pessoas, que procuro profundamente conhecer, estão tentando preencher seus vazios, nos mesmos lugares de sempre, com as mesmas pessoas vazias que eu tentava me preencher. Eu não sei se fico triste por elas estarem caindo na mesma ilusão que eu caí. Ou se sinto preso aonde eu estou, se sinto preso aqui nesse agora, nesse momento, aqui.

Essa cidade está em ruínas emocional. Todos conhecem todos, e todos tentam se sentir superiores a todos. Aquele mesmo jogo manipulativo de dez anos atrás. Parece que a minha juventude, ficou impregnada nas ruas da cidade onde eu moro. Em todo canto, tem alguém que te conhece, que sabe alguma coisa de você, e tenta jogar contra você para se proteger de você. No fundo as pessoas são tão paranoicas quanto eu. A bebida ainda continua distorcendo a realidade das mesas de bar, onde os ditos amigos, tentam seduzir, ludibriar as mulheres com mentiras que eles próprios acabam acreditando, e depois iludem a si mesmos, devastando corações alheios. Eu vejo, agora eu percebo, todos são reféns de seus próprios medos.

Parece que todos, se tornaram uma parte minha do passado. Tenho a sensação que se eu pegar cada pedacinho de cada pessoa que vive nessa cidade, vai se formar um todo complexo, e esse complexo se refleti-lo no espelho, eu vou me deparar com meu próprio reflexo, com meus olhos transmitindo um olhar melancólico e ao mesmo tempo homicida. Eu me tornei a minha cidade, e a cidade se tornou um reflexo da minha mente distorcida. Eu preciso me libertar dessas algemas que prendem a minha pele a rasgando, mostrando a minha carne viva.

Me sinto dentro de um planeta na via combusta, onde todas as pessoas se queimam aos poucos, pois tentam brilhar demais, achando que são poderosas tanto quanto o sol. Mas na verdade, dentro de cada uma delas, não há vida. Só há uma cidade em chamas, em uma perfeita ruína.

Mas claro, não é somente a cidade, não é somente as pessoas, o problema também sou eu. Talvez eu seja a própria cidade, que entrou em um curto circuito megalomaníaco, não há mais força, nem luz, só escuridão, onde eu evito andar sozinho em meus próprios becos escuros, talvez continuando aqui, eu esteja me autodestruindo. Me conduzindo novamente, dentro do abismo.

Eu preciso me reconstruir novamente. Mas desta vez, bem longe daqui.