24 de novembro de 2011

O meu Tempo


Estou aqui ouvindo o som do relógio, é o mesmo toque, o mesmo ritmo de cinco anos atrás, parece que o tempo não passa, parece que cada coisa, e cada objeto estivesse no mesmo lugar, objetos com cheiro de mofo e cheio de pó, o surreal som de insetos comendo a madeira, mas só percebo mesmo que o tempo passou quando olho para a janela e enxergo as mudanças, quando observo o sol nascer, quando percebo a calma que a lua trás ao meus olhos, quando sinto meu coração bater mais forte quando ouço o barulho da chuva, percebo que lá fora o tempo passou e aqui dentro fiquei parado no tempo. Fiquei aqui preso dentro dos meus sonhos, das minhas fantasias, único gosto de vida que eu tinha em meu paladar era o gosto do café, não havia abraços e nem afeto, era somente eu, o espelho e o meu ego.

Todos cresceram, todos mudaram, tudo cresceu, tudo mudou e o meus planos ainda eram os mesmos, fiquei frustrado em perceber a realidade, a verdade que entrou na minhas entranhas como uma faca afiada cortando pra fora cada sonho, cada paixão que eu alimentava, e assim nada me fazia esquecer da realidade, eu sempre acordava de volta ao meu castigo, assim então quebrei o relógio, tomei um banho de água fria, era inverno, mas dentro de mim estava queimando como um inferno, eu tinha que encontrar o meu paraíso pessoal, eu tinha que sair lá fora, pular a janela e dentro da multidão eu iria me encontrar, encontrar comigo mesmo.

E o tempo passou e eu passei com ele, e pessoas passaram comigo, e coisas aconteceram, e planos foram realizados e alguns fracassados, aprendi com o tempo a nunca mais sonhar e sim não perder tempo sonhando. As vezes perco meu tempo me perguntando se tudo isso é só perda de tempo, passei metade da minha vida dentro do meu quarto, eu queria engolir o mundo com tudo que tinha dentro mas você cresce e repara que já estava sendo engolido pelo mundo faz tempo.

E o tempo passou e continua passando, o relógio ainda faz o mesmo barulho, o café ainda tem aquele gosto de vida, mas eu não sou mais eu mesmo, mudei com os minutos, com os segundos, com as horas, com os dias, com os meses e com os anos, e o espelho ainda está lá no mesmo lugar refletindo meu rosto, meu corpo, mas o ego ficou guardado, bem guardado dentro de uma caixa, uma caixa que eu poderia chamar de pandora, se eu colocasse todo o orgulho de volta pra fora, mas vomitei todo o orgulho, e todas as coisas que me aprisionava, derrubei o muro que me impedia de sair do lugar, e assim então agora eu estou caminhando, livre.