26 de fevereiro de 2018

Pelas cordas das arpas que os anjos tocam, a inspiração me invade violentamente. Os caminhos que eu trilhei onde somente o meu ego e minha ignorância gritavam intensamente. Hoje são os caminhos que destruo, aplicando o caos sobre o próprio caos, destruindo as minhas próprias ruínas. Lidando com as consequências que eu mesmo criei, me olhando de verdade agora no espelho, vendo o meu verdadeiro reflexo daquilo que eu fui, e percebo o que eu sou agora não reconhece o que eu era antes, pois como no romance de Oscar Wilde, o retrato de nossa alma vai se tornando cada vez mais monstruosa toda vez que decidimos saciar os pecados que excitam a nossa carne. Carne que nasce tenra, porém vai se tornando podre e imunda toda vez que sujamos a nossa alma.

O meu quarto era pintado de luxuria e estupidez, era vermelho, escuro, onde demônios dançavam ritualizando as minhas perdições. As paixões eram mescladas de compaixões dissimuladas. A ilusão que nossas almas eram puras, a realidade nos mostra que elas têm feridas, elas sangram e sujam, e somos nós mesmos que a sujamos com nossos erros e pecados. E quanto mais nossas almas sangram, mais nossos filhos sentem a dor que sentimos, por meio da conexão do amor com a alma, de maneira subconsciente através da mente e do coração que se entrelaçam no universo cósmico.

Mundos que instigam nossos medos, aqueles sentimentos que estão ocultos dentro do nosso inconsciente invadem a consciência, nos dando ataques de pânico. Emoções que jazem lá embaixo, mas que estão perto do céu. O universo tenta nos equilibrar, e a cada sacudida que levamos; nossos tremores e medos invadem a nossa alma, e finalmente nos ajoelhamos e enxergamos nossos erros, e com a morte na beira de nossa cama, começamos a rezar. Mas será que é a morte que nos leva deste plano? Não!  É a morte que nos deixa mortos por dentro, com aquele vazio, que agora sem ela dentro de nós, o vazio fica ainda mais imenso e intenso, porque além do vazio, agora tem o medo que nos assombram com o desconhecido?

E assim muitos se apegam aos caminhos da fé.

Velas são acendidas, preces são ditas em um tom de lamento. Cada lágrima que cai, os anjos levam as nossas mensagens aos deuses, e lentamente vamos abrindo a percepção de nossa mente. Lentamente vamos enxergando um plano superior ao nosso, e ficamos desejando a nossa elevação. Mas o processo dói e machuca a alma, porque a ferida que nós mesmos causamos nela, está lentamente se cicatrizando, a cura complexamente também dói, principalmente a cura das feridas de nossas almas. E choramos de joelhos, mas todos devem saber que são lágrimas divinas de arrependimento, estas sim remetem os sentimentos mais verdadeiros, pois até o amor vem da dor.

Muitos não escolhem este caminho, porque ele é estreito demais. Porque dói demais, porque o orgulho entre outros pecados não permite que o ser humano evolua. Muitos culpam Deus, ou o Diabo, mas na verdade eles são somente o reflexo de nossas ações, a linha divina santa nos eleva para o Dharma, a linha da esquerda reflete o nosso próprio Kharma, que serve como equilíbrio para que nossa missão se cumpra neste plano. Só depende de nós mesmos se vamos regredir ou evoluir. Muitos riem daqueles que procuram ajuda nos caminhos da fé, mas não existe nada mais humilde e belo do que um ser humano arrependido disposto a mudar e curar as feridas que ele mesmo causou em sua própria alma.

E agora eu estou aqui escrevendo através destas palavras para instigar um medo que reside em você. Para buscarmos o mistério de todos e de cada um de nós, pois agora eu vivo verdade por verdade, dente por dente. Jazendo aqui embaixo, mais perto do céu.

- BRUNO BERNARDES