20 de novembro de 2012

Café

Pode ir dormir com os anjos, e reserve bons sonhos para acumular sorrisos pela manhã.

Eu te serviria o café da manhã, te daria um abraço e um beijo de bom dia. E arrastaria uma cadeira, para sentar ao seu lado. Observaria você comendo as torradas que você tanto adora comer, crocantes, com um pouco gosto amargo de geleia de pimenta. Olharia para o relógio, para certificar que você não estaria atrasada para o trabalho. Mas dali mesmo daquela mesma cadeira, do seu lado. Eu seguraria suas mãos, por um rápido segundo, para sentir um pouco do calor que seu corpo me passaria num minuto para o outro. Mas você não percebe que estou ali, observando os pequenos detalhes. É tudo uma pequena distração. Olho seus pés passarem entre as pernas da mesa, e percebo, pela sua delicadeza, que sou eu que durmo com os anjos. Me levanto da cadeira para escovar os dentes e ir ao trabalho, te dou um beijo e digo que a amo. Já se passaram dez minutos desde então. E a ansiedade toma conta.

Olho no espelho, por um instante, me admiro. Enquanto escovo os dentes, olhos diretamente para meus olhos, para mim mesmo, e me pergunto, 'o que é o amor próprio'? E um leve sussurro em meus ouvidos me fala sobre a minha obsessão. Nesta hora, no meio de um devaneio, eu me dou conta, do que eu tinha feito. Do que eu tinha planejado meticulosamente por tantos dias. Paro e respiro fundo. Começo a fazer a barba, e me corto num leve deslize. Enquanto cai de gotas de sangue sobre a pia, vejo que já passou o tempo suficiente, para eu voltar para o a mesa e terminar o café da manhã. Eu precisava me despedir dela, como sempre fazia todas as manhãs, antes de ir trabalhar. Com um beijo bem molhado.

Eu não senti nada, não ouvi nada, mas enquanto eu tentava ficar elegante no espelho. Nos exatos quinze minutos que passaram. O veneno que coloquei no café quente enquanto eu preparava para ela, finalmente tinha começado a fazer efeito. Ele circulou pelo seu sangue, pelo seu corpo, e cada minuto que passou, simplesmente tirou a sua vida. E eu nem pude ouvir seu último suspiro. Mas agora está tudo bem.

O pior já passou e eu já preparei o lugar onde eu vou manter você junto comigo. Juntos. Era o que queríamos desde o começo, que sempre sonhávamos. Juntos para sempre. Lembra?

Minha psicose tornou o nosso amor imortal nos lençóis sobre nossos corpos irreais, no tempo que nos encontramos quando nos olhamos. Sua pele pálida, dou um beijo em seus lábios, sua saliva logo conclui a morte. Você se deitou comigo na mente, e agora não vai sair. Você abraçou o meu coração e agora não vai soltar. Nunca mais. Eu te amo intensamente.

Agora você nunca mais poderá ir embora.