14 de maio de 2022

Becos Escuros



No vermelho do céu, de nuvens densas que criam ruídos da mente, colocando em evidência a fronteira da luz com a sombra do inconsciente, vago por lá naqueles becos escuros, com um mera lanterna em busca da cura da loucura, e descubro em cômodos cheios de aranhas e serpentes que a loucura é o remédio contra a insanidade do mundo moldado por uma normalidade cruel e falsa. 

Regras impostas pela sociedade foram as causas das minhas doenças da mente e da alma. Pois dentro dessas regras moldadas por uma Matrix criada por um ser caído, existe uma tirania que castra a liberdade tanto do destino quanto do livre árbitro. Colocando todos os seres humanos em um estado vegetal e demência coletiva. Apenas seguindo tais regras, que os levam para o mesmo lugar, para o mesmo inferno, um loop de escravidão da alma e do espírito que refletem constantemente no mundo e nos poderes e naqueles que o possuem.

Entrando mais profundo dentro da minha própria mente, aos toques do pêndulo que me me conectava com o outro mundo através de uma longa mentalização com imagens, viajei dentro de mim mesmo. Descendo escadas espiraladas que me levaram a um palácio secreto e abandonado, porém ainda repleto de tesouros que servem como barganha para espiritos do submundo para criar um cenário na esfera terrestre de loucura e insanidade, percebi uma possessão habitual da infância que sexualmente sofri nós confins da décima segunda casa da roda zodical, o trauma e a possessão que em outrora foram despertos por ancestrais a fim de ter o poder de seduzir e de ter poder no mundo, abrindo uma brecha no eclipse na Syzigia antes do meu nascimento, trazendo o Mal Espírito do mundo inferior, assim fazendo com que a maldição passasse por gerações para gerações, até finalmente agora chegar a mim. Logo que nasci.

Logo vi que as escadas que eu desci, a ao olha-lhas de baixo para cima, elas não tinham um fim, passavam das esferas sublunares e de lá, uma luz me conduziria até as esferas superiores Celestes, mas que, como ainda minha alma ainda não cumpriu seu destino terreno, ainda não posso subir, sem antes discorrer o Entremundos e o Julgamento. 

Então é aqui, que eu realmente devo estar, porque é aqui que está todo o abuso que eu sofri, toda tortura. É aqui também que está o recalque, a repulsa, a pulsão da morte como desejo descontrolado de uma Vênus obscura enrolada nas serpentes de Algol, a Medusa.

Vênus da noite beijando Algol exaltando o Mal Espírito olhando e venerando o Deus da destruição, me fez descer aqui, nesse palácio cheio de espelhos que refletem meus preconceitos, meus pecados, minha perversão, minhas fantasias moldadas por fetiches aparentemente doces, mas que, quanto mais se tomava desce mel, mais deixava a outra pessoa a mercê da locura e insanidade. Muitas pessoas que entraram no meu coração, perderem suas cabeças, e o controle de suas mentes foram dispersos nos portões da vida e da morte. E eu, por breves momentos fui o Algoz e ao mesmo vítima deste mostro que me persegue em cada beco do meu destino. 

Uma maldição que quase me fez tornar aqueles que eles mais queriam, um densa e escura sombra em que tudo que eu tocasse fosse engolido pela perdição da imensidão do vazio cheio de tortura e seduções obsessivas. Quase me tornei um algoz implacável e ainda rezo e vigio os ciclos do tempo para não perder o controle da mente e da minha alma, pois o mal não é como um leão que ronda procurando aqueles para devorar, o Mal de verdade é como um ser humano comum, gentil com bons modos e ótimas vestimentas, belo e sedutor, que todos o adoram, que se eu perder o poder da vigília ele me alcança. Quando você conhece seu inimigo oculto, mais ele fica com fome de devorar você. 

Mas, não! Desci aqui. O palácio tem um rei caído, já enfraquecido, com a coroa moldada por chumbo e ouro. Era o reflexo de Saturno em aspecto com o Sol, era o Narcisismo da minha mente que tanto me destruiu. Eu era um rei de bom coração, mas com sede de poder e sangue, era uma sombra com qual eu dançava, e hoje, a sombra já está dominada pela minha mente que hoje é direcionada pela Alta Magia. O inimigo não me alcança mais pelo meu ego, nem pelos meus desejos. Hoje, ele está aqui, no fundo desse poço, que mesmo sendo um palácio, está cheio de vermes entre outros seres rastejantes inomináveis. E, eu não tenho mais medo.

Pois como diz Eliphas Levi: "Por meio de uma ginástica perseverante e gradual, as forças e agilidade do corpo se desenvolvem ou se criam numa proporção que espanta. O mesmo se dá com os poderes da alma. Quereis reinar sobre vós mesmo e sobre os outros? Aprendei a querer""

Então aprendam e mergulhem-se no fundo do poço bruto de chumbo, ao sair de lá, verá a luz que não cega, que não fascina criando fanáticos, verá que a luz e a sombra são Enamorados dentro do Julgamento da Morte que nos leva ao espelhamento da Estrela da manhã que reflete no nosso Mundo. Espantando a maldição a as correntes do Arcano XV.

Pois não há como alcançar os céus, sem antes descer o seu próprio submundo, sem antes passar pelos seus próprios becos escuros.

- Bruno Bernardes

Escrito na hora de Saturno