31 de maio de 2021

A TEIA



Teia de aranhas tecem seu lar sob os móveis do escritório
Elas crescem nos cantos das paredes e olham para mim,
Elas me julgam, mas ao mesmo tempo gostam da minha companhia
Algumas delas até tocam minhas mãos e sobem na escrivaninha
Minha mente cheia de bagunça; é um lugar perfeito para a morada delas
Elas aumentam de tamanho e se tornam parte da casa
Ou melhor, se torna parte de mim
Se torna um fluido da minha alma
No corredor cheio de pó e cabelos caídos pelo chão
Manchas escuras que aparecem do invisível
E se manifestam na tinta branca dos pisos
São sombras e escombros em ritmo de concretização
O corpo dói e se arrasta pela imensidão
Nenhum médico acha uma doença conveniente
Até que durante um sonho, uma bela moça me diz;
Meu filho; você é moldado por luz e depressão
Quimeras, belezas raras e ciclos de lamparina e escuridão.
Meus pés sujam ao andar pelos cômodos cheios de loucura
A sanidade é inimiga, não caem na conversa dela
Não existe verdade em suas definições
Ser mentalmente são é uma grande mentira
Que o mundo nos conta nos deslocando
Dentro de suas prisões
Porém aqui, nas bagunças da alma
Molda-se fantasmas
A verdade caminha de mãos dadas com a ilusão
Autossabotagens estão sentadas nas poltronas das salas
E outras chegam continuamente
Apertando a campainha no portão
Todas entram de mãos bem dadas
Ah as Autossabotagens;
Elas foram bem vindas
Botei a mesa pra elas
E servi e elas boas comidas e boas bebidas
E me alimentei delas
Porque eu precisava processá-las dentro de mim
E excretá-las na água suja da privada
Junto com outras toxinas
E percebi quão a vida é mera passagem
Mera piada
Quantas mentiras eu tive de contar pra mim mesmo, e engolí-las
Pra descobrir a verdade?
Tal verdade que sempre roncou no meu estômago.
Quantas mentiras eu tive de contar pra mim mesmo?
Para me tornar quem eu realmente sou?
Eu tive fome de me mim mesmo
Eu tive fome do sabor da verdade
Ela é rara, e não se encontra nos comércios convencionais
Ela está dentro de você
Ela está escondida
Esperando você se perder
Para então, encontrá-la
E junto com ela, enlouquecer-se
Essa é a única saída
Devorar a si mesmo
Como um maldito enigma.
É muito melhor caminhar nos trilhos e espirais da loucura
Do que viver dentro de uma bolha obscura
Aqui parece escuro
Mas minha mente é tão lúcida
Que Ilumina vidas noturnas
Nigredos se refletem na luz do meu espírito
E teço meu lar no alto da casa dos céus
Deixando minha alma leve como plumas
Sou também uma aranha que cresce
Minhas pernas são tão longas que se erguem nos degraus
De uma escada que desce e sobe simultaneamente.
E dentro dessa teia cheia de tramas
Me reencontro e renasço mil vezes
Das cavernas cheias de lamas
Hoje e ontem e no momento presente
E em outros futuros já previstos
Eternamente
A teia é uma espiral de ida e volta
De vida, morte e retorno
Pois, agora melhor amigo também
Dos caminhos infinitos.
Nessa teia sem fim
Que nos gruda e nos costura
Como um belo adorno
Em suas variadas sentenças e destinos.
A vida é um suborno.
- Bruno Bernardes
31 de Maio de 2021