"Perfume"
Aquele perfume que se impregnou em cada centímetro do quarto cheio de lembranças suas. O passado estava visitando o presente, os ponteiros do relógio voltaram e fizeram seu percurso de novo e de novo e de novo, apenas para sentir o gosto e o sabor daquele tempo que passou e que por motivos sem sentido deixou leves vestígios de amor e sangue. Um cômodo tão infestado de memórias que se tornou assombrado pelos fantasmas da nostalgia. Não havia como dormir em paz naqueles lençóis, naquela cama, sentindo o odor daquele perfume cheio de doçuras e amarguras. Adormecer lá era como sentir a euforia de estar anestesiado da realidade, eu viajava para uma outra dimensão, uma dimensão cheia de efeitos contrários do mundo que vivo.
Eu permanecia em coma!
E o tempo voava com a tempestade lá fora, me deixando preso junto com ele naquela parte da casa infestada pelo cheiro do teu perfume. Eu estava parado junto com os ponteiros dos relógios, e sempre estávamos voltando o percurso, voltando para atrás ao invés de seguir os passos a frente. Eu voltava junto com o tempo e as horas me mostravam a dura verdade que teríamos de enfrentar. Eu teria que deixar todo aquele tempo de fantasias para trás, deixa-las nos ponteiros do passado, junto com as horas, dias, meses e anos de sonhos.
Eu permanecia no tempo.
Assim como os ponteiros dos relógios voltaram o seu percurso normal, meus pensamentos também voltaram para um momento de sanidade. Em noites que vozes sussurravam em meus ouvidos dizendo – sonhe comigo – ou em dias que vozes gritavam – eu vou embora deste lugar – vozes, frases e sensações. O tempo me amou naquele minuto e noutro não amou mais. E conseqüentemente o tempo passou e levou tudo com ele, os momentos, os risos e os choros, apenas deixando seu perfume para trás.
E assim então a vida continuou.
Eu permaneci vivo!
“A própria vida é apenas uma visão, uma lembrança, nada existe; só um espaço vazio e você.”